Filipe Vianna - Segue o Jogo

Quando o treinador tem raça, não há pressão que aguente!

Treinador do Flamengo, Abel Braga, passou mal durante o clássico de ontem contra o Fluminense. Alexandre Vidal / Flamengo

Há tempos vêm se discutindo essa tola ideia (sendo bem taxativo) de um time com raça. O Maracanã ecoa sempre com o grito “Queremos raça”. Em se tratando de Flamengo então, qualquer crise é motivo para que essa frase apareça na boca dos torcedores. Mantendo a mesma ideia, é muito comum ver a vibração dos mesmos quando aquela bola está em disputa na lateral e o jogador vem rasgando tudo, gritando, fazendo gestos com as mãos (estilo Dunga na Copa de 98). Mas isso não me enche os olhos.

A tal raça pedida vem se tornando dispensável no futebol. Jogadores como Felipe Melo estão se tornando mais um peso do que uma solução. A verdade é que do que adianta isolar a bola na arquibancada como no exemplo acima, se, numa situação específica, sai um escanteio para o adversário e o gol acontece? A inteligência, o posicionamento em campo, a tática, as jogadas treinadas têm feito a diferença. O Fluminense de Fernando Diniz é um grande exemplo. É uma equipe com atletas de qualidades limitadas que está se apresentando bem, surpreendendo com o que vem jogando, fazendo até os torcedores pensarem em Libertadores. Tudo isso devido a um estilo jogo com inteligência, explorando as peças que se tem, ainda que não sejam tão caras quanto de outros clubes.

O objetivo é mostrar a você, leitor, que não adianta força quando não há gestão, direcionamento correto desta força, raça, vontade, entrega. Técnicos como Abel Braga são raros. São técnicos que têm o grupo na mão, que fazem a diretoria pensar duas vezes em mudar o elenco, como é comum atualmente.

Falando especificamente do Flamengo, não quero induzir que o mal do time Carioca estava no banco de reservas esse tempo todo. Não posso jogar Barbieri, Rueda, Carpeggiani, Dorival e Zé Ricardo e seus trabalhos no lixo. Mas a verdade é que o que faltava para o Flamengo era um treinador. Aquele treinador que decide jogo com substituições, que chega no vestiário e detona se tiver que ser assim ou que acalma quando é necessário...

Desafio você a me lembrar quando foi que o Flamengo iniciou um ano com o planejamento do treinador. Até porque Diego, É.Ribeiro, Diego Alves chegaram no meio da temporada. Foram jogados nas mãos dos técnicos para que pudessem fazer jogar. Como se fosse um diamante dado para alguém lapidar, sem saber se esse alguém poderia fazer isso ou, até mesmo, se tinha conhecimento para fazê-lo.
Agora, com Abel Braga, o cenário é outro. A raça que tanto cobravam dentro de campo, não era apenas culpa dos que ficavam com a bola nos pés, mas possivelmente dos que ficavam de fora das quatro linhas. Quero dizer que sem um cara para chegar e mostrar a direção correta para os atletas, esse grito “Queremos raça” nada vai alterar. Precisa haver um direcionamento, uma gestão de grupo, alguém que saiba comandar.

O estilo efusivo do comandante, seu “suadouro”, sua entrega na beira do campo (isso desde os tempos de Internacional) são marcas registradas de quem se doa ao trabalho. Apesar de ter passado mal essa noite, no Fla x Flu, Abel mostrou que é isso que falta no futebol: raça vindo do banco de reservas. Aquele treinador que tem o time na mão, que tem o coração da cor do clube. A expectativa é que tudo fique melhor e que ele possa continuar sua carreira. Se foi realmente confirmado o pico de pressão, ele precisará cuidar do seu coração, e, torçamos para que não, seja pedido para não “se estressar tanto” (como ocorreu com Muricy Ramalho). Mas como? Como treinar sem fortes emoções? Sem se doar? Quando o treinador tem raça, vontade, não há pressão que aguente. Melhoras, Abel. Você respira o futebol e nós respiramos junto.


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